Opinião da semana: Otamendi, upgrade ou downgrade?
A transferência de Rúben Dias foi uma “surpresa expectável”. É estranho fazer uma afirmação destas, mas a verdade é que, dentro do contexto do futebol português, mais cedo ou mais tarde o Benfica teria que vender o talentoso central de apenas 23 anos.
Rúben Dias foi sempre visto como um futuro capitão dos “encarnados”, o sucessor de Luisão na liderança da equipa dentro das quatro linhas. A sua consistência desde que chegou á equipa principal foi raramente superada e era, quase de forma unânime, um dos mais acarinhados pelos adeptos benfiquistas.
Devido a estas caraterísticas, o internacional português esteve associado aos grandes europeus durante os últimos dois anos, com o Manchester City sempre na frente da corrida.
A venda revelou-se mais eminente com a eliminação da Liga dos Campeões, que obrigou os dirigentes encarnados a vender um dos seus maiores ativos para cumprir o fair-play financeiro e obter lucros para outras transferências.
Assim, um dos maiores talentos provenientes da Academia do Seixal e um dos titulares crónicos do Benfica e da seleção ruma à melhor liga do mundo para ser treinado por Pep Guardiola, tendo a hipótese de disputar jogos na liga milionária.
No sentido inverso, chega Otamendi. E é aqui que se gera o debate.
Otamendi chega do Man. City a troco de 15 milhões de euros, um valor que muitos adeptos e analistas consideram exagerado por um jogador de 32 anos que não acrescentará nada á equipa de Jorge Jesus.
Mas será isso verdade? Terá o Benfica feito um dos piores negócios da sua história?
Provavelmente não. Isto porque não estamos a falar de um jogador qualquer.
Primeiro, a crítica em relação á idade do jogador é completamente descabida. Afinal, Vertonghen é uma das contratações que gerou mais entusiasmo para a nova época e é um ano mais velho que Otamendi.
Jorge Jesus sempre deu preferência a uma linha defensiva composta por veteranos capazes de liderar a equipa. Uma das maiores duplas que o Benfica teve foi, no final de contas, Garay e Luisão, durante a primeira passagem de Jesus na Luz.
Otamendi vem para para proporcionar experiência e liderança a um balneário que ainda sofre com a perda do campeonato na época passada e que necessita de limpar a sua imagem depois da saída de Bruno Lage.
O defesa de 32 anos tem outro aspeto a seu favor, está habituado a ganhar. O currículo que o atleta apresenta é, no mínimo, invejável: 1 Campeonato Argentino; 3 títulos da Liga Portuguesa; 1 Taça de Portugal; 3 Supertaças Cândido de Oliveira; 1 Liga Europa; 2 títulos da Premier League; 4 Taças da Liga Inglesa e 2 Supertaças de Inglaterra.
Passou por FC Porto, Valência e Manchester City, tendo ainda 70 internacionalizações pela Argentina.
Jogou ao lado de estrelas como Messi, Aguero, Kevin de Bruyne, David Silva, Vincent Kompany, João Cancelo e Bernardo Silva, para além de ser um grande entendedor do campeonato nacional.
Se existe alguém que conquistou o direito de exercer um papel de destaque numa equipa como o Benfica, esse alguém é o jogador argentino.
Se é melhor que Rúben Dias, provavelmente não. São jogadores diferentes, mas não significa que haja uma tremenda quebra de qualidade. O argentino, até há pouco tempo, era um dos incontestáveis de Guardiola, o que revela o nível das suas qualidades.
Muito menos importa se já jogou por um dos maiores rivais do clube, pois qualquer profissional dá o seu melhor, independentemente da equipa que representa. Para o bem ou para o mal, o futebol atual não vive numa era de amor á camisola, há mais fatores que influenciam a carreira de um atleta.
Otamendi não é um traidor do FC Porto, assim como Maxi Pereira não traiu o Benfica quando se transferiu para o eterno rival. No mundo selvagem do desporto-rei, os profissionais fazem o que entendem ser melhor para o seu futuro, é natural.
Portanto, não são fatores externos que vão provar o sucesso ou fracasso desta aquisição, mas sim as exibições no terreno onde se constroem vencedores.
Só é preciso dar uma chance. Afinal, um novato de nome Rúben Dias só precisou disso para se afirmar.
Imaginem o que pode acontecer se derem a mesma oportunidade ao “el general” dos “citizens”.
Fonte da imagem: Manchester City Twitter/@ManCity